O Pêndulo

Breves observações sobre Romanos 5 a 8 baseadas em experiências com amigos

OTIS
4 min readJun 25, 2017

A versão de A Mensagem traz uma das mais brilhantes frases que conheço: “Cristo chegou na hora certa.” Romanos 5 inicia a grande sequência paulina para a explicação da graça.

Nos primeiros capítulos da carta, Paulo apresenta nossa condição natural de pecadores. O pecado que nos separou da glória de Deus (3:23) e nos coloca em condição de réu-culpado. Nos capítulos 5 e 6, Paulo abre um debate criando um pêndulo entre o legalismo e o liberalismo. Somos justificados pela graça e isso nos libera para uma vida permissiva de pecado ou precisamos nos justificar através da lei e obras?

Esse pêndulo confuso e assustador piora quando no capítulo 7 Paulo se apresenta como também pecador — e se declara o maior de todos. Nós, ouvintes desesperados começamos a indagar se é possível viver assim.

Então, essa tensão é aliviada pela boa notícia de Romanos 8. Quem está em Cristo está totalmente livre de condenação. Quem está em Cristo não pode ser separado dele por nada na terra ou fora dela. Nem mesmo o pior de nossos pecados pode nos separar do amor de Deus em Cristo porque ele chegou na hora certa. Escolheu nos amar, perdoar e justificar antes que estivéssemos prontos para isso. Entender essa verdade me liberta da tensão com a qual acordei hoje. Não é pelo que eu fiz ou ainda farei, mas pelo que ele fez antes mesmo que eu pudesse fazer algo por mim mesmo. Ele resolveu tudo.

Mas como eu posso estar em Cristo e ainda pecar? Esse questionamento é extremamente relevante, pois o pêndulo diz respeito a uma necessidade de equilíbrio para o cumprimento da vida cristã. Jesus não aboliu a lei, apenas fez com que a lei não fosse mais o critério essencial para a salvação. Mas o cumprimento da lei demonstrado pelo modo de vida de Jesus é um critério para que possamos manter um relacionamento com Deus.

A teologia chama isso de Doutrina da Salvação. Ela ocorre em quatro estágios. O primeiro estágio é o da justificação que diz respeito ao ato da salvação, o momento quando Jesus nos resgata e nós aceitamos em nosso coração aquilo que Ele fez por nós. O segundo estágio é o da regeneração, que através da vivência cristã diária nos confirma a nova criação — somos feitos nova criatura e evidenciamos esse fato através de mudanças em nosso caráter.

O terceiro estágio é o da santificação, que necessariamente diz respeito a nossa caminhada com Cristo. Somos santificados por Cristo, e evidenciamos esse fato através de nossas ações. A santificação é um processo contínuo, que dura toda a vida do cristão. Não se trata de não cometer pecado — porque enquanto seres humanos cometemos e cometeremos pecados. O processo de santificação se trata de alimentar um ódio pelo pecado, alimentar o desejo de não pecar. Não é possível alcançar o “não pecar” por nossos próprios esforços. É pura graça.

Mas como a graça age em favor de nos manter longe do pecado? A graça nos mantém longe do pecado nos possibilitando um relacionamento com Deus. Quanto mais próximos de Deus por causa da graça estivermos mais distantes do pecado estaremos. Alimentamos nosso relacionamento com Deus através de uma devoção diária à oração, estudo da Palavra e adoração.

O quarto e último estágio da Doutrina da Salvação é o da glorificação. Esse somente ocorrerá na eternidade celestial quando formos feitos iguais a Deus — quando formos feitos seres glorificados.

O grande mistério é que a graça não faz sentido.

Toda vez que cometemos um pecado somos acusados pelo nosso pecado — acusados no nosso interior e na nossa mente como os pecadores sórdidos e inúteis que somos. E então olhamos para Cristo e envergonhados confessamos o pecado do qual mal sabemos se estamos arrependidos. Ele olha para nós e diz que não existe nenhuma condenação. Nos indagamos como isso possível e Ele nos diz que é porque estamos nEle. Não faz sentido, e por não fazer sentido, muitas vezes, nós achamos complicado aceitar o fato de que não há condenação para aqueles que estão em Cristo, e nós estamos em Cristo, e Cristo está operando Sua boa obra em nossas vidas.

A maior evidência de que Cristo está agindo em nossas vidas é o nosso ódio pelo pecado e desejo de não pecar. O desejo de não pecar hoje e até mesmo deixar o pecado para amanhã (a cada dia cabe seu próprio mal) é a maior evidência de que Cristo começou em nós Sua boa obra, que um dia ele terminará — ainda não está completa, mas está sendo aperfeiçoada a cada dia de nossa caminhada no evangelho.

Ele vai terminar a obra e nos aperfeiçoar por seu amor e graça. Ele nos guiará a Sua verdade e vontade que nos ajudam a fugir do pecado e resistir ao tentador. Ele está disposto a nos dar outra chance quando caímos mais uma vez — porque a graça nos basta para viver e nos guia a uma vida plena e que transmite o caráter de Cristo.

E assim o pêndulo se estabiliza — pela graça de Cristo e com a ação de Seu caráter em nós (a perfeita lei de Deus) — somos levados a uma vida em que já não somos condenados. Jesus é lindo por isso também.

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OTIS

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