No ano passado, fiquei muito surpreso ao descobrir por meio do Spotify e Deezer que faço parte do grupo de 1% dos assinantes que mais ouvem Coldplay em todo o mundo.
Claro, esse 1% significa muuuuita gente, considerando a quantidade de streamings que a banda tem ao redor do mundo. Mas o que percebi é o quanto a discografia dessa banda britânica fala direta e profundamente comigo.
Então, decidi classificar e falar sobre seus oito álbuns da banda até agora, antes que eles lancem mais um seguindo o novo sinlge “Higher Power”, sobre o quão importante eles são para mim e como eu valorizo sua qualidade geral.
E é por isso que acredito que devo começar a escrever olhando para trás, praquilo que eu ouvia quando comecei a ouvir Coldplay.
Sou um fã atrasado, considerando que comecei a ouvir suas músicas por volta de 2010, 2011. Mas, mesmo assim, sou um grande fã dos primeiros álbuns que eles fizeram e, honestamente, a essa altura já estudei tudo o que há pra saber sobre a banda, seu processo de composição, referências e influências, através de documentários e vídeos no YouTube, além de claro, já ter ouvido cada uma das músicas da banda várias vezes ao longo da década. Então eu meio que acredito que tenho o direito de falar minha própria opinião sobre o trabalho da banda. E esse será meu ponto de partida.
Bora?
8. A head full of Dreams (2015)
https://www.youtube.com/watch?v=vGZMvV9KBp8
Este álbum levou quatro anos pra finalmente falar ao meu coração, embora tenha impulsionado a última e melhor extravagância de turnê mundial do Coldplay, não é solenemente um bom projeto por si só. Claro, “Hymn for the Weekend” é boa, Beyoncé né, “Adventure” é legal e tem aqueles macacos, mas mesmo com alguns momentos bons esparsos, esse está longe do que é um bom álbum do Coldplay. Eles fizeram um documentário com o título desse disco para contar a história da banda, contando a história desde quando era uma banda de alojamento na faculdade até a fama mundial, se tornando a maior banda da atualidade. Mas mesmo quando eles falam pessoalmente sobre o quanto eles estiveram envolvidos na criação da melhor experiência de turnê para um fã do Coldplay (que eles entregaram direitinho), o álbum em si está longe de ser grandioso. No entanto, “Birds” acabaria se tornando minha música favorita do disco por uma experiência pessoal.
7. Ghost Stories (2014)
https://www.youtube.com/watch?v=Qtb11P1FWnc
Um ano antes de arranhar a história com “A Head full of Dreams”, o Coldplay lançou o dramático “Ghost Stories”. Se o outro é pelo menos divertido, este é insuportável. Tirando alguns bons momentos, como “Magic” ou “Midnight” ou a música de abertura “Always in my head”, o álbum falha em ser o que se diz ser: uma análise de relacionamento rompido. Falta conteúdo, substância e o sentimento real que pudemos ouvir nos primeiros projetos. Acabou se tornando uma forma insossa do Chris Martin choramingar o fim de seu relacionamento sem grande profundidade, sem tocar nos temas fundamentais e nos assuntos complicados, ao contrário usando seu tempo para fazer perguntas de dúvidas universais que ficam sem resposta. E ainda meteram no disco uma canção que definitivamente pertence a “A Head Full of Dreams”, a nada inovadora “A Sky full of Stars”, que não carrega nenhum ponto de originalidade do Coldplay.
6. Mylo Xyloto (2011)
https://www.youtube.com/watch?v=zTFBJgnNgU4
Em 2011 o Coldplay veio ao Brasil para o retorno do Rock in Rio. Na época, eles estavam iniciando uma grande turnê para divulgar o álbum terrivelmente entitulado “Mylo Xyloto”, com seus hits pop “Paradise”, “Every teardrop” e “Princes of China”, num à época estranho feat com Rihanna, seus bons momentos com “Charlie Brown” e “Major Minus”, e um blending esquecível porém tocante fechando o álbum. Este projeto foi o segundo produzido por Brian Eno, mundialmente famoso por produzir bandas como U2, David Bowie, e que trouxe ao Coldplay uma liberdade criativa maior para se aventurar em sons mais pop, sintetizados e menos Brit-rock. A universalidade do álbum rendeu uma boa turnê e um show divertido no Rock in Rio que eu assisti diversas vezes, menos pelas canções de MX e mais pelos sucessos do passado.
5. X&Y (2005)
https://www.youtube.com/watch?v=0k_1kvDh2UA
Este é considerada a ovelha negra da família, o álbum do Coldplay que fecha sua primeira trilogia, porém não apresenta nada de novo. Isso não faz dele um álbum ruim, porém um álbum que foi considerado previsível naquilo que já se esperava de uma banda do calibre que o Coldplay já tinha alcançado quando chegou ao terceiro projeto. De toda forma, a sonoridade e temas são interessantes, se tornando cada vez mais universais e relacionáveis. Os bons momentos existem aos montes. De “Square One” a “White Shadows”, “Speed of Sound” a “Kingdom Come”, até o grande hit do projeto, “Fix You”, eternizada como um dos épicos do quarteto britânico.
4. Parachutes (2000)
https://www.youtube.com/watch?v=yKNxeF4KMsY
O excelente álbum de estreia de Coldplay, que colocou a banda no mapa com seu tom soturno, suas canções profundas, melodia cativante e guitarras bem sonorizadas, foi um sucesso quase sem precedentes que catapultou a banda ao estrelato. “Yellow” é, obviamente, o maior sucesso da banda em todos esses anos, o que ajudou na venda de CD’s que fizeram a gravadora rica e os fãs ansiosos por mais. “Don’t Panic”, “Shiver”, “High Speed”, “Trouble” são outros grandes momentos do disco, além de “Everything’s not lost”, com sua faixa escondida, encerrando a experiência. Com uma estreia como essa, fica até difícil manter o status de maior banda do mundo sem fazer uma surpreendente continuação.
3. Everyday Life (2019)
https://www.youtube.com/watch?v=aKlwJROuo-Q
O mais recente projeto lançado pelo Coldplay surgiu do nada. Lançado meses antes do mundo inteiro parar pela pandemia, o Coldplay já havia anunciado desde o dia um que não faria turnê para esse projeto. Enquanto predecessores “A Head full of Dreams” e “Mylo Xyloto” foram devidamente coloridos e tematicamente felizes, “Everyday Life” assume outro contraponto, muito bem executado e inventivo. Ele não entrega apenas o que já se esperaria do Coldplay (faixas como “Orphans”, “Champion of the World” e a incrível “Trouble in Town” cumprem bem esse papel, até mesmo devolvendo certa identidade à banda), porém vai além de gêneros e forma para entregar uma comovente narrativa que pode ser lida sob várias interpretações, com suas faixas inusitadas como “BrokEn”, “When I need a friend” e “Arabesque” (essa última a melhor entre elas). Em contraponto, o tom festivo dos álbuns anteriores abre espaço para melancolia em faixas como “Daddy”, “Old Friends” e “Cry Cry Cry”, que tocam em temas universais contudo pessoais, não apenas em crença e esperança, mas relacionamentos com uma característica mais real. O que se tem no quesito “show” para esse projeto, é uma linda performance inteira do álbum gravada em Jordan em novembro de 2019 para promover o projeto, filmada bem no comecinho da manhã para condizer com a ideia de “Sunrise”, e encerrada perto do “Sunset”, transmitido ao vivo para o mundo todo pelo YouTube. E que beleza de projeto visual esse se tornou, quase conseguindo nos fazer recordar dos anos iniciais da banda e trazendo, sem intenção, um respiro necessário aos dias longos e devastadores da pandemia global. Seja o que vier na sequência (aka “Higher Power”) já podemos esperar algo mais alinhado à faceta pop da banda.
2. A rush of blood to the head (2002)
https://www.youtube.com/watch?v=qhIVgSoJVRc
O segundo álbum da banda é uma experiência pra lá de revigorante. A banda volta à estúdio após fazer uma longa turnê promovendo “Yellow” e “Parachutes” e tenta criar algo ainda melhor (e consegue). “In my Place” é a melhor segunda canção que a banda já fez, e como é bom ouvi-la ao vivo nessa posição. “Clocks” é inventiva e uma experiência a parte, “God put a smile” é um estrondo de criatividade e “Politik” tem todas as características que uma faixa de abertura da banda precisava àquela altura. Mas é em “The Scientist” que a banda brilha de verdade, uma canção que Chris escreveu já quando estavam desistindo das inúmeras faixas que haviam feito até aquele momento e que serviu como uma injeção de adrenalina que jogou a produção em outro patamar. E pessoalmente, eu sou muito fã da faixa título, que embalou e muito meus dias de ensino médio, quase dez anos depois do lançamento, e deixou uma marca permanente em minha memória musical afetiva.
1. Viva La Vida (2008)
https://www.youtube.com/watch?v=dvgZkm1xWPE
Não há nada como “Viva La Vida” por aí. A faixa título já é seu espetáculo à parte e configura até hoje o melhor momento de um show do Coldplay, uma catarse, um clímax. Esse que foi o primeiro disco da banda produzido por Eno, numa busca de encontrar um novo som único, após o fiasco de crítica de “X&Y”, o álbum previsível do Coldplay (já imaginou o que falam deles hoje em dia né). E de fato a parceria se concretizou como uma das mais bem sucedidas do mercado musical. “Viva La Vida” é único de tantas formas, quer estejamos falando da versão standard, quer falemos da versão Deluxe com suas excelentes faixas bônus. “Lost”, “Violet Hill”, “Cemeteries of London” são algumas das faixas mais associáveis ao passado da banca que o disco traz, em meio às fantasticamente novas e frescas “Life in Technicolor” (I e II), “Lovers in Japan” e “Death and All of His friends”. E entre os bônus, ressalto as excelentes “Prospekt’s March”, “Now My Feet Won’t Touch the Ground” e “Lost+”, a versão com Jay-Z. Definitivo como melhor projeto que a banda já fez, sacramentou com êxito seus primeiros anos e elevou a banda ao status que ela carrega de ser a maior banda do mundo, tornando cada vez mais difícil atingir o ápice criativo e musical entregue no álbum de 2008.